Silêncio na Liturgia não é espaço vazio!

3 de julho de 2018

Liturgia, música e beleza.

“A própria Liturgia tem na sua seqüência uma série de momentos de silêncio, que não são espaços vazios de tempo, mas espaços de tempo repletos da Presença”, afirma a professora de arte Cristina Langer.

Qual a relação entre liturgia e beleza?

– A beleza tem a tarefa de nos despertar a uma outra coisa que não está nela mesma. Diante da beleza o coração se enche de espera, porque imediatamente nasce a pergunta: Quem é o Artífice, o Criador disto tudo? Então tudo que é belo pode abrir em nós o desejo da busca do Senhor, a Beleza encarnada.

Na Liturgia a beleza é o próprio motivo pelo qual a celebração se dá: para Deus, com Ele e Nele. Qualquer motivo que não seja este esconde a Beleza presente ao invés de revelá-la. Na minha experiência, a participação diária à Santa Missa é a “coroação” de tudo o que me acontece naquele dia porque é o Lugar Privilegiado para retomar a minha consciência ao reconhecimento da presença da Beleza de Cristo.

No contexto da liturgia e da vida espiritual, há como uma perda da sensibilidade para o belo?

– Na experiência de todos nós católicos (sacerdotes, religiosos ou leigos), creio que esta que poderia ser chamada “perda de sensibilidade” é o nosso maior drama. O drama é justamente o ceder ou não ceder à Beleza de Cristo no contexto da vida. O coração deseja esta familiaridade com Aquele que é a própria Beleza, para que repletos da Sua Presença possamos reconhecê-Lo presente em todas as circunstâncias da nossa realidade, para que nossos olhos possam transbordar para o mundo este que é a Beleza.

Este drama, ou perda de sensibilidade, é fruto da nossa auto-suficiência, desta separação que fazemos das coisas do dia-a-dia e da vida espiritual. A nossa vida cotidiana, a realidade do trabalho, das obrigações, das alegrias, das perdas e dificuldades… ou é diante do Senhor, com o Senhor, tornando-se um pedido cotidiano “Vem, Senhor Jesus”, ou não é vida.

Como cuidar da beleza na liturgia?

– “A Liturgia, por sua vez, só é bela e, portanto, verdadeira quando despojada de qualquer outro motivo que não seja a celebração de Deus, para Ele, por meio Dele, com Ele e Nele.” (Via Pulchritudinis – Documento da Assembléia Plenária dos Bispos, 2006)
A Liturgia deve ser vista como um todo, e não como algo fragmentado, com momentos um pouco mais ou um pouco menos importantes. Não pode ser “atravessada” como um “ritual” já conhecido.

Cada instante da celebração é importante e deve ser acolhido e saboreado, porque cada momento será único, belo e verdadeiro somente se vivido no reconhecimento do Senhor. Ao sacerdote cabe colher e revelar a beleza presente nas leituras e no Evangelho, orientando os fiéis apenas para o que é essencial (Cristo), e nunca para qualquer outro “assunto”. Como num todo, as equipes responsáveis pela música e colaboração à Liturgia devem ser igualmente orientadas e acompanhadas ao Essencial.

Outro aspecto muito importante a meu ver é o silêncio. A própria Liturgia tem na sua seqüência uma série de momentos de silêncio, que não são espaços vazios de tempo, mas espaços de tempo repletos da Presença. Ao preencher estes momentos com músicas ou palavras supérfluas, encobrimos o Essencial.

Fonte: Vida Celebrada
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