Ainda não foram divulgados detalhes sobre o que inspirou o cardeal Robert Francis Prevost a escolher como nome papal Leão XIV. Mas algumas referências históricas e contextuais chamaram atenção de jornalistas, estudiosos e clérigos, que buscam ler como tudo isso vai ser relacionado com o ministério pretrino que terá início nos próximos dias.
Uma primeira referência que chama atenção é quanto aos Papas que escolheram o nome de Leão, um dos mais utilizados pelos pontífices na história. O primeiro, Papa Leão Magno, ficou marcado na história pela definição da Cristologia, quanto à natureza humana e divina de Cristo, durante o Concílio de Calcedônia, no ano de 451. O mais recente, Leão XIII, governou a Igreja por 25 anos, entre 1878 e 1903, e destacou-se por sua intensa produção de documentos, especialmente quanto ao pensamento social da Igreja, cujo expoente é a encíclica Rerum Novarum, de 1891. O documento lançou as bases da Doutrina Social da Igreja e ainda hoje é referência em debates sobre justiça social e direitos dos trabalhadores.
Já a outra referência diz respeito a uma amizade profunda de São Francisco de Assis com o frei Leão, considerado culto sacerdote e hábil calígrafo entre os franciscanos, que foi secretário pessoal e confessor do santo de Assis. A ele, São Francisco dedicou uma afetuosa bênção, contida no manuscrito “Bilhete a Frei Leão”:
“Irmão Leão, teu irmão Francisco te envia saúde e paz. Estou a falar-te, meu filho, como faria uma mãe. Toda conversa que tivemos no caminho a resumo aqui numa palavra de decisão e conselho. E, se depois te for preciso vir a mim, a tomar conselho, eis o que te recomendo:
Do modo que melhor te parecer agradar ao Senhor Deus, e seguir seus passos e sua pobreza, assim farás com a bênção do Senhor Deus e a minha obediência.”
Os franciscanos contam desse relacionamento bem equilibrado entre Francisco e Leão, sendo que “apenas Leão era capaz de preservar e proteger a intimidade de Francisco e por isso foi o único a estar perto do encontro chagado e ardente ao mesmo tempo entre Francisco e seu Deus no monte La Verna”.
Leão também aparece junto com São Francisco no famoso episódio da “perfeita alegria”. Enquanto caminhavam, Francisco pede para Leão tomar nota de algumas reflexões: em nenhuma das situações citadas de glória ou conquista ela é encontrada, mas sim na paciência e na postura de não perturbar-se diante das humilhações: “aí está a verdadeira alegria, a verdadeira virtude e salvação da alma”.
Ainda sem a certeza da escolha, mas lendo os fatos disponíveis, pode ser sintomático que, no início do Conclave, o cardeal Raniero Cantalamessa refletiu sobre “voltar a uma boa Cristologia e a consideração de Jesus Cristo na fé e no anúncio da Igreja”, como revelou o cardeal Odilo Pedro Scherer na coletiva realizada nesta sexta-feira, no Colégio Pio Brasileiro.
Cantalamessa também é autor de um livro “Francisco, o bobo de Deus”, no qual apresenta trechos da vida de Francisco e seus ensinamentos a outro frade, sobre alegria, evangelização e abandono em Deus. É bem possível que o ex-pregador da Casa Pontifícia possa ter apresentado esses exemplos franciscanos.
Prevost, por sua vez, pode ter escolhido seu nome papal a partir desses sinais: a vivência com o Papa que tomou do Santo de Assis o nome e a meditação dos significados presentes nos Leões da história da Igreja.
A revelação oficial dessa história deve ocorrer na próxima segunda-feira, quando ocorrerá o encontro do Papa Leão XIV com os jornalistas.
CNBB
Luiz Lopes Jr.