Pessoas atingidas pelo rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão participam da IV Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho

24 de janeiro de 2023

A Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho, que está em sua quarta edição, acontece anualmente no dia 25 de janeiro, data em que se recorda a tragédia-crime do rompimento da barragem de rejeitos de responsabilidade da mineradora Vale S.A. Fato que resultou na morte de 272 pessoas, além de uma imensurável destruição ambiental, que ainda hoje geram graves consequências que assolam o território de Brumadinho e demais comunidades da Bacia do Paraopeba. Também será realizada uma coletiva de imprensa sobre a Romaria e as pautas levantadas por ela, no mesmo dia, às 8h.

As peregrinações em romaria são tradições populares da comunidade católica ao longo dos séculos. Em alguns países da América Latina, inclusive no Brasil, além das romarias devocionais há ainda as romarias em defesa dos pobres e da terra, quase sempre com apoio de movimentos da sociedade civil organizada. A Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho é realizada pela Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser), da Arquidiocese de Belo Horizonte, junto às pastorais e movimentos sociais, Assessorias Técnicas Independentes, entidades da sociedade civil organizada e pessoas atingidas. O ponto alto da Romaria é a celebração da missa, presidida por Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, na Igreja Matriz de São Sebastião, em Brumadinho. Seguido por uma caminhada até o letreiro na entrada da cidade, onde será realizado o ato das famílias, organizados pela Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM).

Memória, justiça e esperança Com um clamor profético de anúncio e denúncia amparado em três eixos, a Romaria é um chamado ao cuidado integral com o nosso planeta e a tudo que nele vive, a nossa Casa Comum. O primeiro eixo é o da memória das 272 joias. O segundo é da justiça, como um grito de denúncia contra a impunidade e em defesa dos direitos das pessoas atingidas. O terceiro é o da esperança de que novas alternativas de bem viver, pautadas no cuidado com os mais pobres e com o planeta, emerjam a cada dia, também no anseio de que tragédias como essa não se repitam. A água é o tema central da edição do presente ano, elemento vital à vida que também sofreu danos ao longo da bacia do Rio Paraopeba devido ao desastre-crime.

Os danos causados pelo rompimento provocaram agravos ao meio ambiente, à saúde e intensificou as violências no território. De acordo com a pesquisa amostral realizada pela Aedas, Assessoria Técnica Independente que acompanha as famílias atingidas em Brumadinho, 44% da coleta de água para consumo humano e subterrâneas nas comunidades do município apresentaram alguma inconformidade físico-química devido à presença de alumínio, arsênio, bário, chumbo cobalto, cromo total, ferro, manganês, níquel, selênio, zinco, vanádio, lítio e urano. Também, 63% das coletas apresentaram alguma inconformidade bacteriológica, como coliformes. Ainda, 35% das amostras apresentaram potencial risco à saúde humana apenas pelo contato com a pele.

A intensificação das violências também é sentida pela população atingida. Segundo o Atlas da Violência, houve um aumento 435,48% nas mortes violentas no ano do rompimento em relação ao ano anterior. Um levantamento realizado a partir dos dados disponíveis pela Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais, os anos de 2020 e 2021 tiveram os mais altos índices de vítimas de homicídio em Brumadinho desde 2014. Ainda, verifica-se um aumento de 180% no número de vítimas de homicídio em Brumadinho entre os anos de 2019 e 2020. Já as ocorrências de violência doméstica e familiar contra a mulher nos anos de 2020 e 2022 são cerca de 20% mais frequentes no município de Brumadinho em relação ao estado de Minas Gerais. Em 2021, essa diferença chega a aproximadamente 35%.

De Brumadinho a Três Marias A contaminação do Rio Paraopeba, ocasionada pelo rompimento, estendeu as consequências do desastre-crime por centenas de quilômetros, despejando mais de 13 milhões de metros cúbicos de lama em seu leito e atingindo diretamente ao menos 26 municípios. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) recomenda que a água não seja utilizada para qualquer finalidade por uma extensão de aproximadamente 250 km. No entanto, a Vale, em reuniões com pessoas das comunidades atingidas, tem negado a existência de contaminação nos municípios da calha além do limite de Juatuba, contradizendo estudos das assessorias técnicas e as recomendações do próprio IGAM.

Na região de atuação da assessoria técnica Nacab, que atende comunidades situadas na calha do rio em 10 municípios, entre Esmeraldas e Paraopeba, pelo menos 1.177 pessoas pediram ajuda nos últimos anos por problemas relacionados ao comprometimento de suas fontes de água para consumo pós-rompimento. Um estudo do Nacab analisou 489 dessas fontes na região, entre poços, cisternas, nascentes, açudes, córregos e lagos, identificando 310 pontos com alterações nos parâmetros ferro, alumínio e manganês, o que torna a água imprópria para o consumo. Além dessas alterações, algumas fontes de água amostradas também apresentaram concentrações de outras substâncias químicas como chumbo e bário.

As análises ambientais também foram feitas continuamente entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2022 nos municípios atingidos assessoradas pelo Instituto Guaicuy – Curvelo, Pompéu e região do Lago de Três Marias. Nelas, foram verificadas alterações nos parâmetros físicos de qualidade da água do rio e das represas de Três Marias e do Retiro Baixo. Tais alterações mostram um maior grau de comprometimento dos ambientes até Pompéu, mas também foram observadas alterações ao longo do reservatório de Três Marias, onde o Rio Paraopeba deságua, região em que se concentram milhares de pescadores. De acordo com o Guaicuy, a insegurança em relação à água da represa tem causado diversos danos às comunidades pesqueiras, como dificuldades financeiras devido a drástica redução de demanda de pesca e problemas de saúde física e mental.

Serviço

IV Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho

25/01, quarta-feira
7h – Acolhida
Local: Igreja Matriz de São Sebastião
Endereço: Rua Barão do Rio Branco – Centro, Brumadinho – MG

8h – Coletiva de Imprensa
Local: Salão da Maria
Endereço: Rua Barão do Rio Branco, 188 – Centro, Brumadinho – MG
A Coletiva de imprensa contará com participação de:
1 – Dom Vicente Ferreira – Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser)
2- Maria Regina da Silva – Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo
Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM)
3- Cacica Célia Angohô – Aldeia Katurama (Liderança indígena)
4- Mãe Odolóya – Representante dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa de Matriz
Ancestral (PCTRAMA)
5- Valéria Antônia Carneiro – agricultora, assentada da reforma agrária e atingida pela Vale
6- Frei Rodrigo Peret – Rede Igrejas e Mineração
7- Marcelo Barbosa – Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)
8- Joceli Andrioli – Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
9- Leila Regina da Silva (NACAB) – Assessorias Técnicas Independentes

8h – Abertura do stand do Projeto Juntos Por Brumadinho
Local: Igreja Matriz de São Sebastião

9h – Missa presidida por Dom Vicente Ferreira
Local: Igreja Matriz de São Sebastião

10h30 – Caminhada
Da Matriz de São Sebastião até o Letreiro de Brumadinho

12h – Ato com Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da
Barragem Mina Córrego do Feijão – AVABRUM
Local: Letreiro de Brumadinho

Contatos para a imprensa

Inhana Olga – Renser (31) 9 97217-4678
Laura de Las Casas – Instituto Guaicuy (31) 9 7135-3685
Elaine Bezerra – Aedas (31) 9 9535-1068
Marcio Martins – Nacab (31) 9 9578-934

CNBB Leste 2

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